Lisboa – Dia 2 – Belém, Carcavelos, Estoril, Cascais e Fado

18/10/2013

Para o segundo dia em Lisboa eu havia me programado para ir um pouco mais longe da região central. A ideia era ir primeiramente ao bairro de Belém conhecer quatro atrações lisboetas: O Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e, por fim, degustar os famosos pastéis de nata da Pastelaria de Belém. De lá, iria pegar o trem e ir conhecer Cascais e Estoril. No caminho, uma parada em Carcavelos, um dos principais picos de surfe de Portugal.

Tomei um belo café-da-manhã no hostel (que aqui eles chamam de “pequeno-almoço”) e parti para mais um dia de descobertas na capital portuguesa. Decidi ir até Belém utilizando o bonde #15, para ir aproveitando a vista da Ponte 25 de Abril antes de saltar no Mosteiro dos Jerônimo. Chegando à parada para pegar o bonde, que fica na Praça da Figueira, a apenas 3 quadras do hostel, dou de cara com uma senhora vestindo a camiseta do Grêmio! Fui logo puxando um papo com a gremista. Tratava-se da Carmem, mineira, casada com um gaúcho e atualmente moradora de Florianópolis. Gremista doente! Estava a passeio em Portugal junto com a filha, que, naquele momento, tinha ido comprar os tickets do bonde para elas. Ficamos batendo um papo e trocando umas dicas, mas logo veio o bonde #15, nos despedimos e eu me mandei.

Durante o percurso, o bonde vai costeando o Rio Tejo, e nele pude ir apreciando um pouco mais dos bairros de Lisboa que contornam o rio, bem como a Ponte 25 de Abril (o bonde passa debaixo dela). Visível de praticamente qualquer ponto da cidade, a ponte pênsil sobre o Rio Tejo é quase uma réplica da Golden Gate de São Franscisco (Califórnia), e foi construída por iniciativa do ditador Salazar e inaugurada em 1966. Ela se chamava “Ponte Salazar” e trocou de nome após a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974. Com 2.300 metros de extensão, ela une Lisboa à cidade de Almada.

Chegando em Belém, desci na paragem em frente ao Mosteiro dos Jerônimos. A pedido do Rei Dom Manuel I, um grande mosteiro deveria ser construído às margens do Rio Tejo no final do século 16, para agradecer à virgem de Belém pelo sucesso da viagem de Vasco da Gama à Índia – e a descoberta da rota do Atlântico. As obras do Mosteiro, no entanto, só foram concluídas um século mais tarde. Um dos monumentos mais emblemáticos da cidade, o edifício exibe uma extensa fachada de mais de 300 metros e abriga os túmulos de alguns dos mais importantes homens da história de Portugal, como Vasco da Gama, Luíz de Camões, Dom Manuel I e Fernando Pessoa. Desde 1984 é considerado Patrimônio Histórico da Humanidade.

Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos

Estava ainda fora do Mosteiro, contemplando a beleza da construção, quando escuto: “Andreiiiiiii !!!!”. Era a Carmem, com sua bela camisa tricolor e a sua filha Renata. Haviam chegado para visitar o Mosteiro também! Acabamos por fazer a visita juntos, e enquanto elas tiravam as minhas fotos, eu batia as delas.

O Mosteiro é realmente lindo e impressionante, ostentando o vigor e monumentalidade esperados para retratar o poderio naval da Portugal do século 16. No exterior e na maravilhosa fachada, encontram-se detalhes misteriosos e menções à era dos descobrimentos. O claustro, no interior, é o destaque do local. Definitivamente, é um dos programas obrigatórios em Lisboa.

Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Claustro do Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos
Mosteiro dos Jerônimos - Coro
Mosteiro dos Jerônimos – Coro

Saindo do Mosteiro, atravessamos a marginal por uma passagem subterrânea e logo chegamos ao Padrão dos Descobrimentos.

Jardins do Mosteiro dos Jerônimos
Jardins do Mosteiro dos Jerônimos
Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos

Às margens do Tejo, foi erguido, no ano de 1940 em homenagem aos navegadores. Trata-se de uma escultura formada por 33 figuras, sendo a do infante Dom Henrique a mais relevante, com 9 metros de altura. O monumento original foi encomendado pelo regime de António de Oliveira Salazar ao arquiteto Cottinelli Telmo (1897-1948) e ao escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), para a Exposição do Mundo Português (1940), e desmontado em 1958. O atual monumento é uma réplica, foi erguido em betão com esculturas em pedra de lioz, erguendo-se a 50 metros de altura. Foi inaugurado em 1960, no contexto das comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique, o Navegador. Sua forma recorda a uma antiga embarcação a ponto de partir.

Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos

De lá, seguimos caminhando pela beira do Tejo até a Torre de Belém, que fica poucos metros ao norte do Padrão dos Descobrimentos. Com o boom das viagens marítimas no final do século 15 e início do 16, a chamada época das grandes navegações, período em que Portugal era uma grande potência, o porto de Lisboa tornou-se passagem obrigatória na rota do comércio internacional. Desta forma, para ajudar a guardar as margens do Tejo, foi erguida a torre de Belém, que inicialmente era cercada por águas e, como o passar dos anos, acabou anexada à terra firme. Classificada como patrimônio mundial pela Unesco, o monumento chama a atenção pelo nacionalismo de sua decoração, que apresenta inscrições do Brasão de Armas de Portugal e cruzes da Ordem de Cristo. É o monumento mais fotografado da cidade. Daqui desde esta margem, inúmeras embarcações saíram em busca de aventuras.

Torre de Belém
Torre de Belém
Torre de Belém
Torre de Belém
Torre de Belém
Torre de Belém
Torre de Belém - Guardando o Rio Tejo
Torre de Belém – Guardando o Rio Tejo
Torre de Belém
Torre de Belém
Padrão dos Descobrimentos e Ponte 25 de Abril vistos da Torre de Belém
Padrão dos Descobrimentos e Ponte 25 de Abril vistos da Torre de Belém

Da Torre de Belém, fomos direto para a Pastéis de Belém, a pastelaria mais conhecida de Lisboa. Um templo dedicado à gulodice mais famosa do país: o pastel de nata, servido quentinho, direto do forno. A casa abriu em 1837 e até hoje é um caso de sucesso. Os inúmeros salões da pastelaria se sucedem decorados com azulejos e estão sempre cheios de gente em busca do doce, que vem acompanhado por açúcar de confeiteiro e canela. Dizem que a receita dos pastéis veio do Mosteiro dos Jerônimos e é o segredo mais bem guardado de todo Portugal. É realmente um absurdo de gostoso!

Pastéis de Belém
Pastéis de Belém
Pastéis de Belém
Pastéis de Belém
Pastéis de Belém
Pastéis de Belém
Carmem, eu e a Renata - Uma das melhores coisas das viagens são as amizades que fazemos no caminho
Carmem, eu e a Renata – Uma das melhores coisas das viagens são as amizades que fazemos no caminho

Depois de saborear os deliciosos pastéis de nata, me despedi da Carmem e da Renata e peguei o trem na estação de Belém, rumo a Cascais/Estoril. Porém antes, no meio trajeto, desci na estação Carcavelos, para conhecer este que é um dos principais picos de surfe de Portugal. Ainda no trem, fiz amizade com um surfista português chamado Nuno, que foi me explicando tudo sobre o local e as características da onda de Carcavelos. Saindo da estação Carcavelos, há que se caminhar cerca de 500 metros até chegar na praia. O tempo neste dia estava feio, com muito vento, deixando o mar bastante mexido. As ondas também estavam pequenas. Mesmo assim, havia bastante gente na água. Caminhei por boa parte da extensão de Carcavelos e fiquei um tempo apreciando o surfe dos gajos.

Carcavelos
Carcavelos
Carcavelos
Carcavelos

Voltei então para a estação do trem e segui em direção a Cascais. Sentou-se então ao meu lado, um senhor, que a primeira vista, quase parecia um morador de rua, pela sua vestimenta antiga e já meio surrada. Mas este senhor começou a puxar conversa comigo e, para meu espanto, descobri que se tratava de um funcionário do governo português residente em Cascais, que inclusive já havia estado por mais de 10 vezes no Brasil em missões especiais. Contou-me que conhecia e gostava de Porto Alegre. Disse-me que em uma das vezes que esteve no Brasil, teria que ir depois até Montevidéu para um encontro diplomático. Decidiu então voar de São Paulo para Porto Alegre, e lá, alugar um carro para ir dirigindo até Montevidéu, pois queria conhecer um pouco do interior do Brasil! Me falou um pouco também sobre Cascais, a cidade que ele escolheu para morar. Chegando na estação Estoril, despedi-me deste senhor, pois queria descer ainda Estoril e ir caminhando e apreciando a paisagem até Cascais.

Estas duas joias portuguesas à beira-mar, Estoril e Cascais, estão a pouco mais de meia hora de trem a partir do Cais do Sodré, em Lisboa. Uma sucessão de belíssimas praias cercadas por rochedos, fortalezas, casarões luxuosos e restaurantes à beira-mar descortina-se diante dos olhos de quem parte de Lisboa rumo a onde o Rio Tejo cede lugar à imensidão do Oceano Atlântico. Estoril destaca-se pelo bonito casario histórico, pela prainha e principalmente pelo Cassino Estoril, o maior da Europa. Dois quilômetros adiante está Cascais, uma cidadezinha pacata e cheia de charme, que manteve os ares de vila de pescadores, ao mesmo tempo em que se tornou um dos destinos mais sofisticados da região.

Cascais/Estoril
Cascais/Estoril
Cascais
Cascais
Cascais/Estoril
Cascais/Estoril

Contemplei um pouco destes dois belos locais e tomei o trem de volta ao centro de Lisboa.

Decidi aproveitar a segunda noite na capital portuguesa para ir a uma casa de fado ouvir o tradicional ritmo português, eternizado no mundo pela diva Amália Rodriguez, e que é a expressão da alma lusitana.

Sua origem não é certa. Alguns dizem que o gênero surgiu dos “cânticos mouros”, por conta de sua melancolia; para outros, porém, teria surgido a partir do lundum, música dos escravos do Brasil que, em 1820, chegou no país europeu com os marinheiros. Há, ainda, os que acreditam que a origem do ritmo esteja relacionada com a época dos trovadores e jograis, por apresentar características semelhantes às das cantigas de amor, amizade e sátira daquele período. Mas, qualquer que seja a história verdadeira, a música exprime a essência do povo lusitano e se tornou um símbolo nacional, envolvendo todas que a escutam.

Geralmente acompanhadas do violão clássico e do violão de 12 cordas metálicas, denominado guitarra portuguesa, as vozes profundas dos interpretes cantam a tristeza, a amargura, a solidão e a saudade. Por terem uma ligação muito forte com o mar, os portugueses se acostumaram com a despedida. Os marinheiros partiam e demoravam a retornar, brotando os incontroláveis sentimentos gerados pela separação daqueles que iam e ficavam, tão bem definidos pelo fado, palavra de origem latina que significa destino.

A primeira fadista que se tem conhecimento é Maria Severa, uma prostituta cigana que, dizem, foi amante do conde de Vimioso, relação amorosa que inspirou várias canções. Mas foi na voz de Amália Rodriguez que o fado atravessou fronteiras e ganhou reconhecimento internacional. A “rainha do fado” morreu em 1999 e deixou muitas saudades. Ainda hoje é admirada e serve de espelho para a nova geração de fadistas.

Toda essa atmosfera é vivenciada nas casas de fado, proporcionando momentos marcantes e agradáveis. Havia já recebido a recomendação dos meus amigos Rogério e Marla para ir à Tasca do Chico, uma casa de fado vadio tradicional de Lisboa, recomendação esta referendada pelo staff do meu hostel. Este casal de amigos meus, havia estado lá ainda este ano e ficaram encantados. A Tasca do Chico tem duas casas, uma no Bairro Alto e outra no Alfama. Neste dia, o fado aconteceria em Alfama. Fui caminhando até lá, seguindo as instruções passadas pelo Zé, funcionário do Living Lounge Hostel, um sujeito muito gente fina. A Tasca do Chico de Alfama, fica bem próxima ao Museu do Fado, na Rua dos Remédios, uma das muitas ladeiras do bairro. Cheguei lá e a casa já estava cheia. Sentei-me numa mesa com um jovem casal de italianos, com os quais bati ótimos papos. Não tardou muito e começaram a sucederem-se as apresentações. A cada pouco vinha um cantor(a), contava meia dúzia de canções e partia. Fazia-se um pequeno intervalo e logo estava outro fadista a cantar, sempre acompanhados pelos músicos da casa. O clima é mágico. Entrar em uma destas casas equivale a se acomodar na sala de estar de uma autêntica família lusitana. Quando os artistas começam a tocar, o silêncio impera no ambiente e a gente se deixa levar pelos versos melodiosos que contam os sentimentos mais profundos.

Fado
Fado
Fado na Tasca do Chico
Fado na Tasca do Chico
Fado na Tasca do Chico
Fado na Tasca do Chico

Além da música tradicional, a comida servida também é típica da terra. Aproveitei para provar algumas cervejas portuguesas e, como não poderia ser diferente, comer um autêntico bacalhau português. Tudo muito simples e gostoso.

Bacalhau
Bacalhau

O gosto pelo bacalhau é tão grande em Portugal, que no natal, enquanto muitas famílias por todo o mundo preparam o peru para servi-lo na ceia, os portugueses dão um toque especial ao famoso peixe, que é o prato principal da celebração.

Mais tarde, o casal italiano foi embora e veio um casal de franceses sentar comigo. Ambos já haviam estado no Brasil e tinham amado nosso país. A francesa estava grávida e disse que sentia desejos todos os dias de comer um acarajé! Kkkkk! Já aproveitei para pegar algumas dicas e treinar um pouco do meu limitado francês, pois dali a dois dias embarcaria para Paris.

Depois apareceu ainda outro grupo de franceses que estavam hospedados no mesmo hostel que eu, e finalizamos a noite caminhado e conversando nas vielas de Alfama até irmos de volta para o Hostel.


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