Pessoal, hoje vou contar um pouco sobre os perrengues que eu passei na ida ao norte peruano.
É mais do que conhecida a fama do Peru de derrubar os surfistas que visitam o país, com problemas estomacais, piriris e assemelhados, devido baixa qualidade do tratamento da água e as condições de higienização muitas vezes precárias.
Mas eu esperava, e estava tomando todos os cuidados para, passar longe de qualquer um destes problemas. Tomávamos somente água mineral, não estava comendo salada ou alimentos cruz e, até mesmo a escovação dos dentes fazíamos com água mineral.
Mas não teve jeito, acabei derrubado mesmo pela famosa “Maldição Inca”, que é como os peruanos carinhosamente chamam o “pirirí” por aqui.
Na tarde do dia em que embarcamos para Pacasmayo eu já comecei a não me sentir muito legal. Não sei se foi alguma coisa que comi ou se foi a quantidade de água do mar que eu tomei pela manhã no banho sinistro que demos em Punta Rocas, mas me sentia meio mareado e febril. Ainda antes de tomarmos o ônibus, depois de jantarmos em um shopping de Lima, eu tive que ir ao banheiro e ali já vi que o negócio iria “complicar” …
E bastou começar a viagem de bus com destino a Pacasmayo para iniciar a minha tormenta. No Peru, os ônibus contam com serviço de “rodomoça”, mais ou menos como são as aeromoças nos voos de avião. Logo que o ônibus começa a rodar, elas pegam um microfone e através do serviço de som do bus, começam a passar informações sobre a viagem/rota e instruções aos passageiros.
Lembro que uma das primeiras instruções que ela passou foi mais ou menos o seguinte: “Em lós baños del autobus NO ÉS PERMITIDO DEFECAR! Sólo és permitido URINAR!”. Eu olhei na hora para o Luis e disse: “Não vai dar!”. Bom, acho que passei mais tempo da viagem sentado no banheiro do que em minha poltrona … minha sorte foi que eu tinha levado um rolo de papel higiênico em minha mochila e o João outro na dele … Passei realmente por mal-bocados !
Para complicar um pouco mais, não sabermos o porque, mas o ônibus ficou um tempão parado na Panamericana Norte durante a madrugada, atrasando bastante a viagem.. Acabamos chegando apenas ao meio-dia do dia seguinte em Pacasmayo. A viagem levou 14 horas !

Chegando em Pacasmayo, pegamos um tuc-tuc e fomos até a pousada El Mirador, onde nos hospedamos.



- Pacasmayo








Pacasmayo está localizada no Km 669 ao norte da estrada Panamericana e fica em uma grande baía. Tem uma praia da pedra e areia, além de um calçadão agradável com casas velhas. É uma cidade pequena com aparência de povoado interiorano, com um centrinho de ruas calçadas e um comércio diversificado. A parte periférica é feia, suja e deteriorada … parece que o cara está no Iraque …
Após almoçarmos , demos um rolê para comprar um galão de água mineral, procurar algum remédio para “piriri” e, óbviamente, comprar mais papel higiênico ! rsrsrs! Tomei uns remédios indicados em uma farmácia de Pacasmayo e me mantinha tomando bastante água para reidratar.






Havia um vento bem forte em Pacasmayo e pelo que dava para ver desde o calçadão do centrinho, não havia swell suficiente para rolar onda em El Faro. De qualquer modo, eu também não teria forças para surfá-la… Mesmo assim, pegamos um tuc-tuc e fomos até El Faro para conhecer o pico.
“El Faro” é o nome da onda que quebra nesse incrível lugar. Tem este nome pelo fato de o point ser em frente a um farol no extremo sul de Pacasmayo. É uma esquerda perfeita como a famosa Chicama, mas com a diferença de sempre quebrar com pelo menos duas vezes o tamanho da sua vizinha. É um point breack para esquerda muito constante e simplesmente interminável. É possivelmente a esquerda mais longa do mundo (apesar de muitos afirmarem ser Chicama). A distância percorrida nesta onda nos melhores dias pode deixar o surfista no centrinho de Pacasmayo, a cerca de 1,5 Km de distância !!
Neste dia, o swell estava realmente muito baixo e tinha um ventão maral forte, arruinando qualquer possibilidade de surfe.









Voltamos para a pousada e eu fiquei de cama até o outro dia pela manhã.







No dia seguinte, acordamos cedo, tomamos o desayuno e pegamos um taxi até Chicama, que fica a cerca de 40 Km ao sul de Pacasmayo e a cerca de uma hora para o norte de Trujillo. Para chegar lá desde Pacasmayo, tem que se apanhar a Panamericana e sair no povoado de Paijan. Paijan tem um ambiente um bocado agressivo, e não recomendo ninguém chegar lá sem se saber bem o que se está a fazer ou por onde ir.


Chicama é mundialmente conhecida por ser a esquerda mais longa do mundo (na verdade, El Faro em Pacasmayo é mais longa que Chicama). É um point breack de esquerdas que quebram paralelas a um morro. São ondas muito longas, que permitem até 4 min. de surf. Funciona de 4 a 8 pés.
Chegamos em Chicama e demos de cara com o “El Hombre”, sentado numa cadeira de balanço debaixo de uma arvore, comendo uma bergamota e curtindo o visual de Chicama. “El Hombre” é uma legenda do surfe peruano, é o cara que desbravou Chicama e é o proprietário da única pousada que havia em Chicama até poucos anos atrás, o Hostal “El Hombre”. Existe inclusive uma sessão da onda de Chicama que é chamada de “Sessão El Hombre” em homenagem a ele. É a sessão mais tubular de Chicama, situada mais no inside.
Tiramos algumas fotos com “El Hombre” (que já está bem velhinho) e seguimos caminhando em cima do cliff até o point de Chicama.




A onda estava bem baixinha neste dia, mas mesmo assim era perfeitinha. O surfe estava na feição para os longboarders.












De Chicama, voltamos e resolvemos ir a Puemapi, que está mais ou menos a 15 Km ao sul de Pacasmayo. Puemapi é o pico da região que normalmente está com o maior tamanho. Geralmente a proporção é a seguinte: se Pacasmayo estiver com 2 metros, terá 1 em Chicama e 3 em Puemapi. A onda em Puemapi, como todas as demais da região, é um point break de esquerda, que quebra em frente a um reef e logo se mete em uma baía, com uma distância de percurso de uns 300 metros. Mas como estava com muito vento, a onda estava muito ruim neste dia e nem surfamos Puemapi.







Voltamos para Pacasmayo e eu continuava sequelado … Como não havia previsão de um novo swell para o norte nos próximos dias e a indicação era de que continuariam os fortes ventos, decidimos não perder tempo e comprar as passagens de bus para regressar a Punta Hermosa, que sempre tem buenas olas.
Saímos à noite de Pacasmayo e a viagem de retorno foi no mesmo ritmo da de ida … metade do tempo na poltrona e a outra metade no banheiro. Ao menos na volta conseguimos poltronas no primeiro andar do bus (as bus-cama, que deitam 180 graus). Bem mais confortáveis …







Chegamos em Lima no outro dia pela manhã, pegamos um taxi e retornamos para o surfcamp do Luisfer em Punta Hermosa. Chegando aqui, a Flávia me disse que eu devia estar com uma Salmonela ou algo assim e me recomendou alguns remédios, que eu comprei em uma farmácia daqui.
Os remédios funcionaram e combinado com muito Gatorade, hoje eu já me sentia apto para surfar novamente. Fizemos um surfe clássico em La Isla nesta tarde ! Tinham excelentes ondas, com o swell encaixado perfeito na bancada, proporcionando direitas muito longas !! Fiz a mala neste banho, para tirar todo o atraso dos últimos dias em que passei me recuperando da “Maldição Inca”. Estou tão feliz com o surfe que rolou hoje em La Isla, que não tem explicação !!










As previsões para os próximos dias são animadoras e, ao que tudo indica, teremos vários dias seguidos de ondas clássicas como as de hoje por aqui.
Apesar de todo o perrengue que eu passei na ida ao norte, e das condições de surfe lá não estarem das melhores, agora que já estou recuperado e me sentindo bem, posso dizer que valeu a ida ao norte mesmo assim, pois não tem preço conhecer picos clássicos como Pacasmayo, Chicama e Puemapi. São templos do surfe mundial, e quem é amante do surfe sabe do que eu estou falando.
Enviamos mais notícias em breve !
Abração